quinta-feira, 29 de maio de 2014

Do caderno verde #1

Dia 11

Quiseste e eu deixei-te ir, mas hoje só queria que voltasses. Volta para o que te quer bem, para o que te quer fazer feliz. Não me convence o teu olhar distante e o teu sorriso apagado. Não gostei de te ver assim. 


Quiseste ir ter com a tua felicidade e eu deixei-te ir, mas que raio de felicidade é essa? Que raio de felicidade te deixa assim?

25 de Maio de 2014

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Desamor Perfeito

Podia escrever sobre coisa nenhuma. E é sobre coisa nenhuma que vou escrever.

Podia não sentir coisa nenhuma. Mas não é coisa nenhuma que estou a sentir. Estou a sentir tudo e, às vezes, o tudo é pouco para falar do que estou a sentir. 

Rodopio de emoções. Baralho de sensações. 

É assim que me pões e eu bem podia não gostar. Mas gosto, gosto tanto que quero continuar a sentir. A sentir-te.

Sentir o teu jeito tímido de chegar. Sentir o teu jeito leve de sorrir. Sentir o teu lado terno no olhar. Sentir no teu toque uma forma de provocar. Sentir o amparo de quem não me deixa só. Sentir a mão que não me deixa cair. Sentir a companhia que não se pede. Sentir o amor que não mede.

E, não te sentir, faz-me sentir-te ainda mais. 



Estranha estranheza. Sentimentos puros, com certeza.

Porque é estranho quando se quer o que não se tem. Mas quem é que quer só o que tem?
Porque é estranho quando se gosta do que não se deve gostar. Mas quem é que gosta só o que se deve gostar?

Estranha estranheza. Sentimentos puros, com certeza.

E de nada vale a luta por contrariar o querer. E de nada vale a luta por contrariar o gostar.

Pois então que se queira. Pois então que se goste.

Se não se persiste é porque não se quer. Se não se deseja é porque não se gosta. E, se não se ama, então aí não se vive.

Eu quero sentir. Eu quero viver. Persisto no querer. Desejo gostar.


Desamor perfeito. Perfeito amor.

Andreia Moreira

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Mãos frias, coração quente, amor para sempre.





(...) Não percebes. Não percebes que frias são as mãos de quem triste tem o coração, por não ser amado como é. Frias são as mãos que deixam escapar por entre os dedos aquilo que, na verdade, nunca agarraram como seu. Nunca acreditaram e deviam ter acreditado. Deviam ter acreditado porque sempre souberam o que queriam. Sempre souberam que te queriam. 

E hoje escapas assim, como se fosses grãos de areia, a querer voltar para esse areal maior. Aí és tão igual e, para mim, és tão diferente. Tão único. Dono de tão prezada singularidade. Tão autêntico. Sempre foste.

Não encontra par a tua genuinidade, simplicidade e bom coração. Nada se assemelha ao brilho que tomam os teus olhos, quando os teus pensamentos te conduzem o tímido sorriso à mais descabida das gargalhadas. Nada iguala o teu jeito pouco preocupado de ser. Feliz. Talvez.

E é querer-te assim, como quem quer a água para a sede, a framboesa para o chocolate, a menta para o tabaco, o pão para a fome. E é querer-te assim, cultor dessa arte que é sentir, sentir não por querer, mas por sentir, sem dor, medo ou repulsa. Ouvinte da mais atabalhoada das confissões. Cor numa folha coberta de cinza. Ponto de luz que guia, de todas, a mais cega.

(…) Aquecessem estas mãos, não por te querer, mas por ter a força de te agarrar. A mesma força que têm os pensamentos, o coração. Porque neles…neles tu foste meu. És meu. Serás meu.
Venha deles a coragem para me agarrar a ti.

Violeta,
8 de Fevereiro de 2014

domingo, 12 de janeiro de 2014

Das ruínas.


Aproxima-te. Sem medo ou repulsa. Esta casa já foi tua também.
Entra. Só não deixes que os teus inseguros passos levantem a poeira que cobre as inquietas memórias dos tempos em que neste lugar entrou luz. 
Não lhes queiras tocar. Hoje são só pedaços frios que outrora nos aqueceram. 
Fica em silêncio. Não perturbes a calma deste lugar. Morto. Triste. 
Não queiras falar.
Chora, se te apetecer chorar.
Ri, se te apetecer rir.
Só não me queiras tirar deste lugar, porque é aqui que eu vivo a parte de mim que já morreu.

Mas e se quiseres ficar? 

Então aí fica. Eu não me importo que fiques. Eu quero que fiques. Não sei ver-me só naquele espelho. É negro o fundo da solidão. Não me quero ver assim.
Não quero estar só.

Andreia Moreira




quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Das dúvidas e contradições

Não sei se deva ousar querer ou querer ousar. 
Lembrar de esquecer ou esquecer de lembrar.
Pensar em gostar ou gostar de pensar. 
Pensar em desistir ou desistir de pensar.
Trabalhar para viver ou viver para trabalhar. 
Acordar para não dormir ou dormir para não acordar. 
Abrir a mão para não perder ou perder por não ter aberto a mão.

Não sei.

Andreia M.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Cartas de Vivian

Tom,

talvez hoje não te ame tanto como amava no dia em que saíste por aquela porta. Escancarada ficou dias de mais. Acreditava que mante-la aberta trazer-te-ia para os meus braços novamente. Rapidamente. Mas as horas sempre custaram a passar. O manto branco que cobre o nosso jardim pela altura do Natal, este ano, levou mais dias para se transformar no líquido mais gelado e limpo a correr pela encosta. Os botões da roseira vermelha junto ao portão, não chegaram a abrir e os raios de sol, bem, esses não tiveram a luz escaldante de outros Verões. E eu estou aqui, pintada num matizado de ontem e hoje, tal como uma folha de Outono que, numa molhada manhã, é pisada no chão de um jardim. Ela perdeu o verde, e o vermelho, aos poucos, é vencido pelo amarelo-torrado. Sinto-me como ela, sem esperança, a ver o amarelo da distância que nos separa vencer o outrora vermelho vivo do nosso amor.
                 Chegou ao fim. Tem que chegar. Hoje não és outra coisa senão uma memória boa que ainda me faz sorrir. Mas hoje quero esquecer e amanhã não vou querer lembrar-te.
                Os meus ouvidos não conhecem mais o som da tua gargalhada. O meu toque está cansado de não te poder sentir e os meus olhos são tomados por uma neblina sempre que te tentam imaginar. Os meus dedos não se entrelaçam mais nos teus. Nunca as nossas mãos voltarão a juntar-se numa tão perfeita comunhão e a nossa união, essa não tem mais a pureza da rosa branca.
                Talvez ainda sorrias por mim, mas não sorris comigo. Talvez ainda penses em mim sempre que vais dormir, mas já não é ao meu lado que dormes. O teu cheiro já não está na almofada e o meu corpo há muito não sente o calor do teu. Os primeiros raios de sol que trespassam a persiana não encontram o teu rosto e isso só leva a que no meu se desenhem feições de quem sofre por não ter quem julga ter.
                Já não te conheço mais como meu. De mim já pouco sabes e o que sabes vives por mim, por meio desta dança de palavras, enquanto eu vivo com outros.
                Tom, o que temos hoje são amarras. Cordas que nos prendem ao ontem, sem nos deixar alcançar um amanhã.
                Tom, liberta-me. Liberta-te. Deixa-me cortar com o que me prende a ti. Corta o que te prende a mim. Deixa-me viver com quem vive comigo. Vive com quem vive contigo. Não te quero mais a viver por mim. Eu não vou viver mais de ti, por mim.
Da, agora já não tua,
Vivian.

domingo, 25 de agosto de 2013

Sobre amores de Inverno.

Não lembrados. Esquecidos, talvez. Não falados. Sentidos, com certeza.
Amor que é amor não vive do sol, dança na chuva.
Um amor de Verão é a insegurança dos pés descalços, a instabilidade das marés. Quente e inconsequente. Leviano e desvairado.
 
Agora os amores de Inverno, esses sim, conhecem o encanto de um cenário perfeito. O vento alimenta-lhes o fogo da paixão, a chuva torna-os pacientes, o frio não deixa que se torne líquida a certeza de que a calma que vem da meia-luz é a mesma que conduz um amor de inverno ao amor mais romântico de todos.
 
de: Vicky Cristina Barcelona
 
Andreia Moreira