quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Anda o Ricardo a chamar Diana à fama


Ricardo Soares, jovem de 24 anos, procura Diana, a bela francesa que lhe roubou o coração, no mesmo dia em que milhares de portugueses se manifestaram contra quem os rouba até ao último tostão. Esta é a sinopse do filme que o Ricardo criou e anda a divulgar por este país fora. Felizes daqueles que conseguem perceber que este rapazinho anda é atrás dos seus 5 minutos de fama (e, graças a alguns pasquins, jornalistas com pouca capacidade para distinguir o que é ou não notícia e a ingenuidade de muita malta, está a consegui-los com tanta facilidade).  




A história criada é igual a tantos fantásticos romances: uma troca intensa de olhares, umas horas de conversa no Jardim do Príncipe Real e um amor para a vida. Ela é “lindíssima, loira, cabelos pelos ombros (...) pele branca, olhos azuis, uma elegância, pronto...muito bela mesmo.”, assim a descreve Ricardo (e diga-se desde já que esta menina tem os traços mais comuns entre as francesas). E depois, Paris?!? A sério?! A cidade do amor?! De tantas cidades francesas, esta “deusa” tinha logo que ser da cidade onde se respira romance e se ignoram desilusões amorosas. Na minha modesta opinião alguém anda a ignorar a linha que separa o real e o imaginado.

“Encontra-me até dia 14 de Outubro, dia em que volto para Paris.”, disse ela antes de partir. O Ricardo pode até não ter o contacto da mulher da sua vida, pode até pouco saber desta criatura de beleza rara mas, para a encontrar, só precisa de uma coisa: ir até ao aeroporto no dia da sua partida. Ela vai ter de passar por lá. Alguém informe o Ricardo sobre isto e, se não for pedir muito, digam-lhe para se deixar de filmes e, se o que ele realmente quer é fama, espere pela 4ª edição da Casa dos Segredos.

Andreia Moreira


sábado, 22 de setembro de 2012

Ao Verão


Não vás já. Fica mais um pouco e deixa-me aproveitar de ti. Deixa-me viver mais desses segundos que fazem os teus dias longos e quentes. Não leves essa que é a estrela mais brilhante para longe de mim. Deixa-a cá, eu prometo tratar bem dela.

Não queiras ir embora. Eu ainda tenho as marcas do que de mais bonito vivemos e não quero que elas se esbatam na ausência do teu brilho, do teu calor. Não cedas o lugar à estação de todos os regressos. Empurra, ainda que seja por pouco tempo, os horários preenchidos, as confusões, as correrias, os sorrisos fechados. Luta pela despreocupação que pauta as conversas nas esplanadas da moda, pelos cabelos ao vento, pelos pés descalços, pelas caminhadas à beira mar, pelas gargalhadas que acompanham jantares, pelos pulsos livres de relógio, pelos dias que dispensam agenda. Não deixes que acabem as saídas à noite, os gelados à tardinha e os banhos na piscina depois de almoçar. Prolonga os amores que tu mesmo te encarregaste de criar. Não vás.

Nos trópicos não encontras quem te receba tão bem como nós, mas a nossa boa disposição, até essa, é sazonal. Somos incrivelmente felizes quando estás por perto, por isso, não vás. Mas, se fores, fica a saber que vou esperar por ti, leva a certeza que te vou desejar e que te vou receber como mereces quando decidires voltar.
Já sinto a tua falta.
 
Andreia Moreira & Liliana Teixeira Fotografia

domingo, 16 de setembro de 2012

Diário de bolso #1

A despedida que nunca te fiz
 
Talvez tenha chegado a hora. A hora de escrever o que nunca te disse. A hora de deixar que as palavras se juntem, partam sem destino e se alojem num qualquer lugar cuja morada nunca saberei. Talvez tenha chegado a hora de procurar a chave, fazer rodar a fechadura e abrir a caixa-forte onde te guardei. Ainda que a memória teime em tentar esquecer o lugar onde a chave está guardada, ainda que as mãos tremam quando a segurarem, a porta do coração tem que ser aberta. Tens de sair.

Queria que continuasses a habitar em mim. Gostava de te sentir por perto, de ter a tua companhia, o teu ombro amigo. Gostava da maneira como me sentia protegida quando te tinha ao meu lado. Gostava mais ainda quando me envolvias num abraço e, com o teu jeito desajeitado de gostar, sussurravas o quanto gostavas de mim. Eu acreditava. Só tu tinhas o dom de transformar o meu sorriso na mais genuína de todas as gargalhadas. Só tu conseguias fazer com que o final da tarde chegasse antes mesmo dela começar. Só tu conhecias os cantos mais escondidos do meu ser. Eras especial, pelo menos para mim eras. Queria-te bem. Queria-te para sempre.

 Hoje, aqueles lugares que eram nossos voltam a ser de ninguém. Hoje, desenho com a ponta dos dedos as recordações do que de mais bonito vivemos. Hoje deixo de te ter comigo mas, em momento algum, deixarei cair uma lágrima porque, mesmo sem teres essa noção, fizeste-me bem de mais.

Sim, está na hora. Já não me pertences. O meu coração já não é mais a tua casa, ou, pelo menos, não ocupas agora o lugar que, com todo o carinho, te preparei. Esse vai ficar vazio à espera de um amor maior.

 Sim, sei que terei recaídas, sei que voltarei a perder-me de amores por esse teu encanto, por essa tua majestosidade, voltarei a imaginar-te como sendo todo o meu coração. Mas, entre avanços e recuos, eu sei que chegarei lá.

 Está na hora! Está na hora de te garantir que não há mágoas, nem ponta de tristeza a ocupar-me as palavras.  Está na hora de escrever o beijo de despedida que não te dei. Vai.

Até qualquer dia, meu amor.
 
Andreia Moreira
31 de Julho de 2012 in Jardins do Palácio de Cristal

domingo, 9 de setembro de 2012

Praxis

Acolher e integrar ou ser humilhado para poder humilhar? O ano é novo mas a questão mantém-se. Porém, se a dúvida permanece, uma certeza impõe-se: nenhum estudante do ensino superior fica indiferente à praxe académica. Ritual de inserção para uns, ritual fascista para outros. Existe ainda quem opte pela não tomada de posição mas isto é, por si só, uma posição.

A praxe divide. A praxe desperta reações amor-ódio. A praxe já foi um ritual de iniciação. Hoje há quem reconheça nela práticas de dominação, jogos rasteiros de poder. Hoje a praxe é tudo menos uma tradição inocente.

Aos bebés da academia

 
“Liberdade? No primeiro dia de aulas, logo à entrada da faculdade, disseram-me que eu podia ser a favor da praxe ou anti praxe. Eu percebi que estava a ser abordada por praxistas, eles estavam trajados. Quando é assim qual é a margem para ser anti praxe? (...) Queria participar na vida académica e sabia que, se dissesse não naquele momento, ia ser automaticamente excluída. Eu queria ser incluída.”
(S. , 20 anos, Porto)  
As palavras que emergem deste discurso, igual a tantos outros, levam a que se questione o carácter voluntário da participação na praxe. Talvez este seja meramente teórico pois, na prática, o que podemos observar são estratégias persuasivas, cuja eficácia contribui para o engrossar das massas de caloiros. O medo da exclusão conduz à obediência e não falta quem saiba tirar proveito desta situação.
"No primeiro dia tive vontade de chorar mas sabia que se o fizesse ia ser pior, por isso mordia o lábio para segurar as lágrimas." 
                         (F., 21 anos, Aveiro) 
São assim recebidos os “bebés da academia”. Julgava eu que a palavra receber se associava a inclusão, a igualdade, ao reconhecimento do ser humano. Para quem veste de negro, a mesma palavra liga-se a um campo semântico diferente: insultar, humilhar, desnivelar poderes. Aclama-se o respeito hierárquico numa altura em que todos já deveriam saber que não se respeita o sujeito x ou y pelo que este faz, pensa, pela posição que ocupa ou pela idade que tem. Respeita-se o ser humano. Por isso é ridículo tratar as pessoas com humilhação para que os que humilham possam ser respeitados.
Andreia Moreira

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Podemos ficar amigos

Podemos ficar amigos – Este deve ser o cliché mais utilizado para pôr o ponto final num relacionamento, porém, se o cérebro estivesse a trabalhar no momento em que somos abordados desta maneira, e se estas três palavras se combinassem numa interrogação, a resposta seria simples e óbvia: Não, não podemos.
 
Talvez eu não seja a pessoa mais indicada para escrever sobre este assunto mas tenho uma opinião acerca dele, formada (quiçá) à custa dos filmes que vi, das revistas que li na adolescência (e hoje me envergonho de o ter feito), do discurso que ouvi das amigas mais velhas e experientes. Talvez estas não sejam as fontes de conhecimento mais credíveis e infalíveis mas levaram-me a acreditar que existem duas maneiras de uma relação acabar: a mal ou a disfarçadamente mal.

Terminam a mal as relações que, em vez de duas, contam três “almas-gêmeas”. Uma troca de insultos, dois pares de estalos, um “Desaparece. Nunca mais te quero ver.” e a situação está resolvida. Prático. Porém, para se ser prático, é preciso que a sensibilidade falte, e esta capacidade de sentir sobra nas relações que terminam disfarçadamente mal, ou pelo menos é o que parece quando ainda se confia na validade dos sentimentos e na integridade da conduta de quem temos pela frente.
A indecisão, a insegurança, o desgaste, ou simplesmente a ausência de paixão, levam a que, muito delicadamente, o terminante se dirija ao terminado, com o discurso ensaiado, e declame, qual ator de Hollywood, algo muito parecido com: “Eu não estou pronto/a para um relacionamento. Podemos ficar amigos. Eu gosto de ti”. Decompondo (e tornando mais verdadeiro): Eu não estou pronto/a para um relacionamento...contigo – esta é a palavra que falta sempre e que torna a expressão tão desonesta, contudo poupa justificações ao terminante que, numa tentativa de consolar o terminado, lhe oferece a sua amizade como quem oferece um brinquedo a uma criança só porque não a quer ver chorar ou fazer birra. Como não há duas sem três, segue-se o “Eu gosto de ti” que, das três mentiras, consegue ser a pior de todas, ou não fosse ela a culpada por deixar na cabeça do terminado uma confusão imensa pois no coração do mesmo fez sobrar uma réstia de esperança, a esperança de que um dia as coisas ainda podem voltar a ser como eram. Esta fé aumenta quando, como se nada tivesse acontecido, o terminante convida o terminado para sair. Mas ex-namorados, isso mesmo, ex-namorados, não saem juntos sozinhos, não conversam como conversavam, não riem como riam, não se amam como se amavam. Terminante, é muito difícil ter o melhor de dois mundos.
Adorava conseguir terminar esta publicação sem trazer para ela mais nenhum cliché, mas este tem que ser para aqui trazido porque é a mais verdadeira de todas as verdades: não há nada que o tempo não cure. Ele repara, organiza, clarifica. Ele é o melhor psicólogo, psiquiatra, amigo ou conselheiro para aquele que é o mal mais sobrevalorizado pela sociedade.


P.S.: Um dia o terminado fica curado. Um dia o terminante assume as suas promessas. Se, e só se esse dia chegar, a amizade entre ex-namorados começa.
 
Andreia Moreira