domingo, 28 de outubro de 2012

Das expectativas e assim


As expectativas são tão amigas das mulheres como as leggings. Ambas nos proporcionam conforto, tornam-nos confiantes, porém as duas levam-nos a ignorar riscos (e nem vou enumerar quais, sob pena de escrever toda a publicação acerca desse assunto).
Toda a mulher, quando está em frente a um jovem elegante, charmoso, que lhe alimenta o interesse, vê na sua mente um fast forward de um romance hollywoodesco: uma praia paradisíaca pintada pelas cores quentes do pôr-do-sol e beijos calientes trocados no areal enquanto a água gelada toca os calcanhares. Difícil é parar o filme, sair dele. As expectativas fazem-nos refém do enredo e teimam em não deixar escape para uma libertação possível. Ficamos acorrentadas, com a visão toldada. O sujeito vira costas e a trama continua: “Será que vai ligar?”, “ Será que não?”, “Mando mensagem?”, “Porque é que não responde?”, “Quando é que o vou voltar a ver?” e por aí em diante. Bem, eu não me canso de dizer: Se um homem está interessado ele vai, com certeza, fazer alguma destas coisas. Eles não são suficientemente audazes para jogar jogos complexos com a mente feminina mas, cautela porque o único romance que eles sabem escrever é com o nosso decote. Mesmo assim não os posso culpar. Eles não são maus, nós é que somos péssimas a interpretá-los. 
O melhor é, como dizem os “irmãos” brasileiros, “não forçar a barra”. Não vale a pena forçar um eventual interesse. Não vale a pena alimentar expectativas. Frieza para quebrar as amarras, razão para manter bem assentes os pés na terra porque sim, quando o interesse deles é genuíno, eles são como nós, fazem tudo igual. A paixão não é uma doença do sexo forte (o nosso).
Andreia Moreira

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Fiel amigo

Chegou pequenino. Frágil. Chorou pelo aconchego de um colo, pelo calor de um abraço. Soube usar todo o seu encanto e roubar para si toda a atenção. Perdeu-se em mimos. Aprendeu cada truque que lhe foi ensinado e hoje, para orgulho da sua dona, exibe-os de forma perfeita aos amigos dela.
 
E mestre a fazer valer os seus interesses. Só alguém sem coração consegue ficar indiferente ao olhar inocente mas nada desinteressado deste animal.
Aprendeu a dar a pata, a descobrir cada biscoito escondido numa das minhas mãos. Aprendeu a preguiçar no sofá enquanto vê na televisão os desenhos animados, sabe como aproveitar cada segundo de desatenção para roubar as almofadas espalhadas pelo quarto. Aprendeu tanto e tão rápido.
 

Hoje é companheiro fiel e sabe mimar.
É ouvinte atento para as minhas conversas e sabe como expressar as suas posições. E companhia nas caminhadas matinais. Ladeia cada um dos meus passos, segue cada uma das minhas instruções, precede-me em cada uma das subidas.
Hoje já não sei quem é que faz companhia a quem, só sei que já não preciso que ele me ladeie, preceda ou siga. Eu já só preciso que ele esteja comigo.

Andreia Moreira

 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Manual de sobrevivência #1


Ando a desejar a sexta-feira desde domingo passado. Resultado:
Não tarda é fim-de-semana, outra vez. Duas ou três saídas à noite, outras tantas idas às compras. Uma certeza: eles vão andar por aí! Sim, estou a falar daqueles rapazolas que, seja num bar ou nos corredores da Zara, fazem de tudo para ter companhia, a melhor, a nossa. Se a presença agradar: “Let’s go girls!”, caso contrário, ficam as sugestões:
Situação n.º1
Sábado à tarde, no café do costume, numa tentativa de recuperar de uma noite regada a sete vodkas, entra um sujeito sozinho, avista-te, aproxima-se e diz:
Eu não te conheço de algum lado?
R: Sim, conheces. Mas deixei de lá ir por tua causa. (Silêncio. Olhar fixo. Ele vai embora).

Situação n.º2
Sábado à noite: saída com o grupinho do costume. Vais até ao balcão para pedir uma qualquer bebida e és interrompida por um sujeito com ar de otário.
Posso oferecer-te uma bebida?
R: Podes-me dar antes o dinheiro? Faz-me mais falta. (Mão aberta. Olhar no vazio. Ele vai embora).

Situação n.º3
Domingo à tarde: compras na Zara. Enquanto passas os olhos pelas camisolas, vestidos, sapatos, botas e casacos absolutamente fenomenais que a marca tem para te vender, mas que tu lamentas não poder comprar, reparas num “Zé”, com ar de coitadinho, que não tira os olhos de ti. Lamenta-se:
É para a minha irmã. Faz anos. Não sei o que deva comprar, não me podes ajudar?
R: Não, sou novo nisto. Fiz a operação de mudança de sexo há pouco tempo.
 
Espero que ajude.
Andreia Moreira

domingo, 14 de outubro de 2012

Sunday, dear sunday

O domingo é um dia aborrecido.

Sair de casa ao domingo? Isso é só para quem tem paciência de santo. Ao domingo os limites de velocidade são cumpridos. Ninguém circula a mais de 40Km/h, as rotundas são aproveitadas para ver as vistas e as autoestradas estão vazias.
 Ao domingo enchem-se os centros comerciais. Não quer isto dizer que a crise acabou e a carteira dos portugueses voltou a ter euros suficientes para comprar grande parte do que se vê. Ver as montras ainda é o passatempo preferido de muito boa gente. Ao domingo enchem-se os autocarros, comboios e metros (não escapa nada). Os velhinhos, que já não esperam a visita dos filhos e netos, vão até ao fim de uma qualquer linha e voltam assim que lá chegam. Os casais domingueiros, que trocam juras de amor eterno porque nada mais têm a dizer, lá vão, mais uma vez, para o passeio no jardim do costume. Talvez lanchem numa qualquer pastelaria lá mais para o final da tarde.
Os parques infantis estão cheios. Os pais lá arranjaram maneira de entreter os miúdos. O Phineas e Ferb já não os ocupam a tarde toda.
Pobre daquele que tem de trabalhar ao domingo. Pôr o pé fora de casa e esbarrar num cenário destes é duro.
Feliz daquele que tem de trabalhar ao domingo, mas pode fazê-lo em casa. Como toda a gente resolve sair de casa, fica a paz, o sossego, o silêncio (e que bem que ele sabe). Fica o cobertor para aquecer o corpo, o café bem quente para elevar o espírito e o livro aberto para alimentar a alma. Pena a chuva não bater na janela, mas já não posso pedir mais. Que bem que sabe um domingo assim.
Andreia Moreira

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Carta aberta a Mark Zuckerberg

"Mark, talvez não seja exagerado dizer que mudaste a minha vida. Devo-te tanto por isso.

Quando tinha oito anos e andava na terceira classe, sonhava com um lanche entre amigas. Imaginava-o cá em casa. A mãe podia fazer o seu bolo de laranja e tenho a certeza que a avó não se iria importar de encher mais duas ou três canecas de chá de camomila. Horas de conversa sobre os desenhos animados preferidos. Gargalhadas mil. De certeza que iria ser uma tarde bem passada. Uma tarde para recordar. Uma tarde de partilha. Elas a partilharem os seus gostos e eu a gostar. Mas o pai nunca deixou que este lanche acontecesse.
Aos doze anos, sempre que caía a noite, imaginava a minha primeira festa do pijama. Até já tinha escolhido a fatiota para essa ocasião. Podia ser no meu quarto. Estava sempre arrumadinho, tal e qual como a mãe exigia. Não iria haver problema. Quatro ou cinco amigas, horas e horas numa batalha contra o sono, mexeriquices e malandrices. Tenho a certeza que com elas iria conseguir falar dos charmosos lá da escola. Será que os nossos gostos e opiniões eram parecidos? Nunca soube. O pai nunca me deixou ir a uma festa do pijama.
Aos dezasseis anos ansiava pelas primeiras saídas à noite. Vestir a saia mais curta, a camisola mais decotada e beber álcool. Nunca soube como queima um shot. Como nunca lanchei com as minhas amigas nem participei numa festa do pijama, elas nunca me convidaram para sair à noite.
Felizmente apareceu o Facebook. Agora convido para amigos até aqueles que não me conhecem. Que mal tem? No Facebook o bolo de laranja da mãe chega para todos. Gosto de tudo o que estes estranhos conhecidos partilham. Que mal tem? Mesmo que na verdade não ache piada nenhuma ao que eles ouvem ou pensam, eles nunca vão ver a minha cara de desagrado.
Hoje faço as maiores e melhores festas do pijama. Fico acordada até altas horas da madrugada e, no Facebook, há sempre alguém online. Ainda que não fale com ninguém, marco lá presença.
Bebedeiras? Nunca apanhei nenhuma. Mas sei o que é ressacar depois de uma noite de “likes”, comentários e publicações.
Mark, para mim és um pai. Obrigada por me teres ajudado a deixar de ser introvertida. Agora sou inconveniente mas adoro!"
M. em Confissões de uma desocupada 
 Capítulo "Uma eventual falta de personalidade".
Andreia Moreira

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Queres um abraço? LIKE

Há quem goste por realmente gostar. Há quem goste por simpatia e agora vai haver quem goste para abraçar. Está inventado o colete que permite abraçar pessoas no Facebook. Sinceramente?! Era a parvoíce que faltava.

 
Pois é, os utilizadores do Facebook já podem distribuir abraços pelos seus amigos sem precisar de se desconectar desta rede social.
Like-A-Hug é o colete criado por um grupo de cientistas do laboratório do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, que se enche de ar sempre que os nossos amigos fazem um «like» numa fotografia, vídeo, ou actualização de status.
A ideia para este projecto surgiu numa conversa sobre relações à distância e limitações dos interfaces dos sites de teleconferência, como o Skype, esclarece Melissa Kit Chow, investigadora no laboratório supra mencionado.
Os criadores do colete argumentam que esta peça de indumentária, no mínimo inovadora, é capaz de transmitir “o calor, o apoio ou o amor que sentimos quando recebemos um abraço”.
A partir de agora é preciso ter muito cuidado ao fazer “likes”. Eu não quero ser responsável pelo rebentamento de nenhum colete ou pelo sufoco de nenhum amigo.
Andreia Moreira


domingo, 7 de outubro de 2012

Doce tentação


Provo um pouco de ti. Delicioso. Muito açúcar para adoçar o coração. Chocolate suficiente para tornar mais intensa essa vontade de cometer loucuras. Preenches o vazio. Sacias esse desejo. Não sei do que é que gosto mais em ti mas tenho uma certeza: quero mais.
 
 

Se o cão é o melhor amigo do homem, o chocolate bem pode ser o melhor amigo da mulher. Companhia para assistir aos romances de Hollywood, antidepressivo em dias de Inverno, cola para corações partidos... Não fossem as gordurinhas que em instantes se instalam onde não queremos e a nossa relação seria perfeita.

Já tanto se imaginou, fantasiou, falou e escreveu sobre chocolate mas já alguém ousou comparar a relação que nós temos com um bolo de chocolate com a relação que temos com ex-namorados? Hoje deu-me para isto.

Imagina um delicioso bolo de cacau, um recheio com o travo do chocolate negro, uma cobertura daquelas que nos fazem salivar à medida de se vão estendendo pelo prato. Desperta a vontade de o devorar até à última migalha. Mas não. Queremos só um bocadinho, uma fatia bem pequenina, porque, ainda que os nossos pés não pisem uma passadeira há anos, estamos de dieta. Saboreamos cada garfada. Sentimos cada sabor. Pedimos a Deus e a todos os Santos que aquele momento não acabe. Mas acaba. Chega ao fim. No nosso rosto fica a expressão de desconsolo e, como disfarçar o que se está a sentir não é tarefa fácil, algum observador atento vai pergunta: “Queres mais?”. Maldita pergunta. É lógico que sim, quero mais uma, duas, três fatias, quem sabe. Mas não, a resposta é “Obrigada mas já comi o suficiente”.

Bem, antes que a vontade de quebrar a dieta me passe pela cabeça, vamos ao que realmente interessa. O que é que tem todo este paleio a ver com ex-namorados? Resolvi comparar um namoro a um bolo de chocolate. Todos têm um princípio e um fim. Alguns, de tão doces, tornam-se enjoativos quando a segunda fatia vai a meio. Outros, de tão amargos, não passam da primeira. Existem ainda aqueles que quase dão cabo do bolo todo, mas, sem querer ser tão amarga como chocolate negro, todos sabemos que são pouquinhos os casos.

Quando um namoro acaba, ainda o bolo não chegou à última fatia, há sempre uma das partes que fica insatisfeita. Há sempre uma parte que fica a olhar para o resto do bolo, a pensar que ingredientes faltaram, ou quais são os que estão a mais. Há sempre quem fique com vontade de reescrever a receita e continuar a degustar o que ainda tem pela frente.

Encontrar um ex-namorado/a é como parar de comer um bolo de chocolate a meio, ter vontade de saborear mais umas quantas fatias mas ter que reprimir esse desejo. Encontrar um ex-namorado/a é olhar para o mesmo bolo, aquele que outrora fora delicioso, que satisfez desejos e preencheu vazios, e tentar convencer-se que afinal esse bolo não era tão bom assim.

Verdade seja dita, se paramos de comer o bolo é porque ele, seja para qual das partes for, tinha algum defeito. Açúcar a mais ou a menos. Bem ou mal cozido. Chocolate em falta ou em excesso. Quando é assim dificilmente se consegue refazer a receita. Talvez o melhor seja passar os olhos pela vitrina da confeitaria e escolher um bolo novo.
 
Imagem: "O melhor bolo de chocolate do mundo" - Quando se autoproclamam como o melhor bolo de chocolate do mundo, não mentem nem um bocadinho. Tirem a prova dos 9.
No Porto ao pé do Jardim da Cordoaria/ Palácio da Justiça. Rua Dr. Barbosa de Castro n.º70.
Andreia Moreira

 
 
 
 
 
 

sábado, 6 de outubro de 2012

Sou do Porto e trago um Porto em mim


O Porto continua em Manobras. Para quem ainda não sabe o que fazer este fim-de-semana fica a sugestão: Sou do Porto e trago um Porto em mim.

Dar voz aos jovens do centro histórico, convidá-los a mostrar o Porto que há em si e permitir que estes resgatem o seu direito à sua cidade. Este é o objectivo do projecto "Sou do Porto e trago um Porto em mim".

Encontra, em exposição, pelas ruas do centro histórico, as fotos que duplicam a realidade e que ilustram a cidade que cabe dentro de cada um.
 
 

 
 
Fica a saber mais em:
 
 
 
 
 
 
 
Imagem: P3
 
Andreia Moreira

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Campanha genial ou de mau gosto?


Alguém me consegue explicar o que se anda a passar na cabeça da malta de marketing e publicidade? Eu tinha a certeza que a história da “Diana” era falsa, mas estava a anos - luz de imaginar que esta farsa toda afinal era um golpe publicitário. Parabéns à Cacharel! O alcance da campanha foi notável, resta saber se foi o melhor.
 

“A história chegou a ser noticiada na TVI e no jornal Metro, a 26 de Setembro, e dava conta de um jovem à procura da "rapariga da sua vida", que teria conhecido na manifestação de dia 15. A "Diana" não lhe tinha deixado contacto ou apelido, mas deixou-lhe a certeza de que a teria de encontrar até 14 de Outubro. Nessa data, ela regressaria a Paris. O jovem apaixonado, "Ricardo", andava por isso à sua procura por Lisboa, com cartazes e um lençol branco com a mensagem "À procura de Diana".

Nas redes sociais, as mensagens de apoio não cessaram. Até hoje. As reacções passaram do incentivo ao jovem "Ricardo" à indignação. (...)
A Cacharel revelou que o "movimento de romantismo" se tratava de uma campanha publicitária nessa mesma página, nesta terça-feira: “Durante uma semana a magia desta história preencheu cada coração dando um novo fôlego e uma inspiração para as nossas vidas. À procura de Diana foi inspirado na história envolvente de Catch Me, o novo perfume da Cacharel. Continua a viver intensamente o Amor na página do Movimento de Romantismo. Todos nós temos uma Diana ou um Ricardo dentro de nós!”
Seguiram-se reacções de revolta pelo engano. "Indecente, insensivel, pouco ético, vergonhoso. São este tipo de acções que consolidam o descrédito nas instituições e nas entidades", escreve uma seguidora da página. "Não gostei... Sinto que gozaram connosco... Achava isto mesmo engraçado", lamenta outra.
A campanha não foi bem aceite por muitos dos que antes apoiavam a história de amor, mas alguns derem mesmo os parabéns à marca pela estratégia de marketing "genial". Cristina Montes, responsável pela divisão de produtos de luxo da L’Oréal, disse ao PÚBLICO que a marca ainda está a avaliar os resultados da campanha da Cacharel."
 
Eu fico à espera dos resultados mas, muito sinceramente, não me parece que o Movimento de Romantismo venha a ter razões para viver feliz para sempre.
Notícia: Vanessa Batista in Público
Imagem: Catch me da Cacharel
Andreia Moreira