Recomendo a leitura atenta desta
publicação a todos aqueles que contam mais de 15 anos de idade. Não quero com
isto dizer que os mais novos não possam ou não a devam fazer mas, para
perceberem na íntegra o que para aqui tenciono escrever, precisam da ajudinha
de alguém mais velho que sorria cada vez que ouvir falar em toques.
No tempo em que não havia mensagens à borla,
chamadas ao preço da chuva, mama para ninguém, havia os toques. No saldo eles
não mexiam, na bateria causavam estragos, nas emoções de quem os recebia
levantavam um autêntico turbilhão. Receber um toque dos amigos conduzia ao
pensamento: “Vai começar a brincadeira”, e começava. Eram horas numa guerra acesa
até uma das partes se render. Mas bom mesmo era quando o telemóvel tocava
porque “aquela pessoa” se lembrou de ti. Porque a idade era de histeria
hormonal, o coração acelerava, o nervoso miudinho sussurrava e a mente desenhava
histórias com um final mais feliz do que a da Cinderela.
Anos depois vejo o toque como uma técnica de
engate de excelência da altura. Bastava um toque de manhã, um ao meio da tarde
e, em casos mais difíceis, um ao final do dia para o coraçãozinho de quem os
recebia se ir derretendo. Mas os tempos mudaram. Hoje já ninguém dá toques a
ninguém (com excepção daqueles que não têm tarifários extraordinariamente fixes)e, felizmente, as mensagens "Olá, que fazes?" extinguiram-se. Hoje há o
Facebook e o Like. Sim, porque o botão que promove a inércia mental também serve
para acicatar conquistas. Por cada foto, publicação ou comentário recebes “likes”
dos teus amigos. Porreiro, é sinal que em parte, ou em todo, eles partilham da
mesma ideia ou dos mesmos gostos que tu. Porém, no meio desta enchente há
sempre um intruso. Alguém, na maioria das vezes do sexo oposto, que “gosta” de
tudo e de mais alguma coisa. Como não existem duas pessoas iguais e, por muito
parecidos que sejam os interesses, em algum momento irá existir discórdia, isto
leva-me a suspeitar e a acreditar em segundas intenções subjacentes ao clique. Depois
de averiguar a situação, para não escrever nada empiricamente não testado,
cheguei à conclusão que o processo é mais ou menos este: Gosto na foto – Gosto em
duas ou mais publicações – Comentário numa publicação - Um “Olá, como estás?”
através do chat – Uma troca de números de telemóvel - Um encontro marcado – e depois puxem pela imaginação e criem
o resto. Tenho ainda a acrescentar que, cumprido na totalidade o percurso acima
apresentado, o intruso desaparece. Mesmo que publiquem a vossa melhor foto, a música
preferida do intruso, ou sei lá o quê que o intruso gosta muito, ele não mais
volta a “Gostar” seja lá do que for. Parte para outro perfil.
Não sei se com esta história
toda o número de “Gostos” nas minhas publicações vai diminuir, seja como for
espero consigo sobreviver com isso.
Andreia Moreira