Pois é, o “cinicamente-correto” está
mesmo na moda.
Este fim-de-semana, ainda sem perceber muito bem como
ou porquê, a “pseudo-crónica” de Margarida Rebelo Pinto, escritora que dispensa
apresentações junto do público feminino, publicada no semanário SOL há quase dois
anos, voltou a ser assunto e publicação em tudo o que é perfil de Facebook. A jornalista
escreve sobre “As gordinhas e as outras” de uma forma fria e impiedosa, transformando
aquilo que deveria ser uma crónica num “ataque” ao grupo de mulheres de formas
volumosas. Tenho para mim que a autora da publicação comete três erros graves:
- Divisão ridícula - a forma rude como pensa o assunto
leva-a a criar uma divisão entre “as gordas” e “as giras”, o que implica que
todas as gordas sejam feias e todas as magras sejam giras – erro grave. Todos
sabemos que existem por aí gordinhas muito giras e magras piores que camafeus.
- Generalização precipitada – Os comportamentos e os traços
de personalidade que a escritora aponta como característicos das gordinhas não
se aplicam nem a um terço dos casos – alguma sensibilidade sociológica teria
ajudado a autora a perceber isso.
- A gota de água – os conselhos que fazem o último
parágrafo são, no mínimo, ridículos.
Sem
fazer qualquer juízo de valor sobre a personalidade em causa, apetece-me
comentar a polémica que se tem gerado em torno do assunto. Não me apetece
encarar o papel de “advogada do diabo” mas será que aqueles que tanto comentam
o assunto e atentam contra a escritora nunca pensaram como ela? Será que nunca
opinaram negativamente sobre alguém por esse mesmo ter uns quilos a mais? Bem,
a verdade eu não sei, mas tenho as minhas dúvidas. Não me parece que o número
de pessoas que valoriza o conteúdo e menospreza a imagem seja tão elevado como
se tem dado a mostrar nas últimas horas. Tenho cá para mim que grande parte dos
“comentadores” está só a agir da forma esperada, da forma “cinicamente- correta”,
escondendo os seus pensamentos “pecaminosos” e mantendo-se assim longe da
crítica social. Certamente 99,9% deles já disse de forma convicta que “uma
imagem vale mais que mil palavras”.
Não
querendo contrariar o Confúcio (paz à sua alma), nem adotar uma postura de
adepta da futilidade tenho a dizer uma coisa: a imagem importa, importa muito e
desengane-se quem tenta acreditar ou convencer-se do contrário. É a partir dela
que construímos e damos a construir as primeiras impressões, as que prevalecem
durante mais tempo, e não é por gritarmos aos quatro ventos “Viva a essência!”
que essa realidade cientificamente estudada e divulgada vai se alterar.
30 segundos é o tempo necessário para formarmos uma
primeira impressão. Esse curto espaço de tempo tem que ser o suficiente para,
mais do que impressionar, cativar o outro e semear nele o interesse pela nossa
pessoa. Será que em meio minuto há tempo que chegue para mostrar as crenças, os
ideais, as qualidades, os saberes, os ensinamentos...eu quase que precisava
mais de 30 segundos para elencar aqui esses aspetos.
Ninguém é só imagem e mais importante do que saber admirar
as linhas do corpo é saber prezar os traços da alma, mas uma coisa leva à
outra. Talvez a solução passe por um duplo investimento: imagem e conteúdo. Há
tempo para correr e para ler, para ir ao ginásio e ao cinema, para tonificar o
corpo e a mente e estabelecer uma conexão sadia entre ambos, para não ter
vergonha de nenhum dos dois.
Andreia Moreira