talvez hoje não te ame tanto como amava no dia em que saíste por aquela porta. Escancarada ficou dias de mais. Acreditava que mante-la aberta trazer-te-ia para os meus braços novamente. Rapidamente. Mas as horas sempre custaram a passar. O manto branco que cobre o nosso jardim pela altura do Natal, este ano, levou mais dias para se transformar no líquido mais gelado e limpo a correr pela encosta. Os botões da roseira vermelha junto ao portão, não chegaram a abrir e os raios de sol, bem, esses não tiveram a luz escaldante de outros Verões. E eu estou aqui, pintada num matizado de ontem e hoje, tal como uma folha de Outono que, numa molhada manhã, é pisada no chão de um jardim. Ela perdeu o verde, e o vermelho, aos poucos, é vencido pelo amarelo-torrado. Sinto-me como ela, sem esperança, a ver o amarelo da distância que nos separa vencer o outrora vermelho vivo do nosso amor.
Chegou ao fim.
Tem que chegar. Hoje não és outra coisa senão uma memória boa que ainda me faz
sorrir. Mas hoje quero esquecer e amanhã não vou querer lembrar-te.
Os meus ouvidos
não conhecem mais o som da tua gargalhada. O meu toque está cansado de não te
poder sentir e os meus olhos são tomados por uma neblina sempre que te tentam
imaginar. Os meus dedos não se entrelaçam mais nos teus. Nunca as nossas mãos
voltarão a juntar-se numa tão perfeita comunhão e a nossa união, essa não tem
mais a pureza da rosa branca.
Talvez ainda sorrias por mim,
mas não sorris comigo. Talvez ainda penses em mim sempre que vais dormir, mas
já não é ao meu lado que dormes. O teu cheiro já não está na almofada e o meu corpo
há muito não sente o calor do teu. Os primeiros raios de sol que trespassam a
persiana não encontram o teu rosto e isso só leva a que no meu se desenhem feições
de quem sofre por não ter quem julga ter.
Já não te conheço mais como meu.
De mim já pouco sabes e o que sabes vives por mim, por meio desta dança de palavras,
enquanto eu vivo com outros.
Tom, o que temos hoje são
amarras. Cordas que nos prendem ao ontem, sem nos deixar alcançar um amanhã.
Tom, liberta-me. Liberta-te.
Deixa-me cortar com o que me prende a ti. Corta o que te prende a mim. Deixa-me
viver com quem vive comigo. Vive com quem vive contigo. Não te quero mais a
viver por mim. Eu não vou viver mais de ti, por mim.
Da, agora já não
tua,
Vivian.